Vou morrer!
Vou morrer e falo da morte com tranqüilidade e paz de natureza.
Podem me chamar de fúnebre ou para me honrar comparem-me a Augusto.
Sou hipocondriacamente fúnebre!
Sou frio e não olho a morte como inimiga.
Não a quero longe e sim perto.
Venha Senhora Morte, venha, pois te quero.
Morrerei e não me importa à hora e nem a causa, mas sei qual será o efeito.
O efeito será a lembrança.
Lembraram de mim numa música, num lugar a exemplo da Ponta de Humaitá, nas fotos, lembraram de mim numa piada, numa gostosa gargalhada.
Lembrarão “Law se foi...” Irão lembrar de mim cada vez que se realizar um Encontro de Estudantes de Letras e lembrarão também das brigas. Sentirá falta até de minhas brigas. Sentirão falta de meu temperamento e natureza (frio, fúnebre e calculista); Mas depois hão de esquecer e só vão lembrar num dardo momento, esporadicamente.
Não o farão sempre, afinal que graça tem lembrar de um morto sempre? Haverá aqueles e aquelas que em meu enterro chorarão, outros ignorarão o meu momento (maior momento) de ápice. Meu encontro com a morte!
Depois me esquecerão!
Já não estarei nem ai para nada. Finalmente descansarei.
Depois de buscar incessantemente à morte, no então esperado encontro refugiar-me-ei em teu esconderijo. Afinal, onde esconde a morte os seus mortos?
Ninguém lembrará mais de mim. Ufa! Que graça tinha ser lembrando (importunado) sempre?
Disse um dia Raul Seixas “Oh! Morte, tu que és tão forte, que matas o gato, o rato e o homem...” Sou esse gato. Sou o negro gato. Sou o rato, sou o verme que espera por me comer com a mesma ânsia com a qual espero eu pelo beijo da morte.
Venha morte com seus lábios frios. Com seus braços longos e gelados. Venha, pois por ti espero dia e noite. Noite e dia. Durmo pensando em morrer no dia seguinte. Durmo pensando em morrer e não acordar.
Depois de morto desfrutarei de um prazer que vivo nenhum pôde provar. Privilégio de morto. Tinha que ter um né?
Voltarei um dia! Não reencarnado! Não creio em reencarnação. Voltarei morto, pois, os Escritos Sagrados dizem: “Deus irá requerer da morte os seus mortos”. Voltarei morto e serei julgado e espero no céu poder morar. Pois lá entrarei porque de mãos dadas com a morte já hei de estar.
Texto escrito na noite de 7 de abril de 2008 após assistir o Sarau do XVIII (Theatro XVIII, no Pelourinho, Salvador, Bahia) sobre obra de Augusto dos Anjos e Ana Cristina César.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
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