quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Raça Negra

NEGRITUDE E EDUCAÇÃO

“Eu conheço nossa história, sempre trago na memória, as mentiras da escola, embrulhei e foi pro lixo...”. Edson Gomes.

A história do povo negro sempre foi contada conforme o “olhar branco”. Nunca na escola interessou-se a ensinar sobre os negros e as negras realmente. O que a escola nos ensina é que no dia 13 de maio a Princesa Isabel, imbuída de grande generosidade e cansada de ver os negros e as negras levando chibatadas, resolveu por assim dizer, liberta-los. Ora, “Santa” Isabel.
O Movimento Negro e seus ativistas rejeitam a data 13 de maio. Comemoram então a data 20 de novembro. Dia de Zumbi. E quem foi Zumbi? Nas escolas pouco se fala, e onde se fala, resume-se a um negro que fugiu da Senzala e levou consigo outros negros e negras e lá montaram o seu Quilombo dos Palmares, em Alagoas. Por que falar de Zumbi? Ignoram. Negro e nordestino, realmente os “donos” da educação e da história acham que é desnecessário.
A questão racial passa inseparadamente pela discussão educacional. É na escola, que as crianças negras aprendem nos livros escolares sem desenhos e ou fotos de negros. Quando ouvem falar de negro é na aula de literatura onde ainda, infelizmente ensina-se Monteiro Lobato, o maior racista de nossa literatura e da literatura mundial (porque assim não o dizer?). Um sítio, onde uma velhinha boa e branca vive com seus netos brancos, com uma boneca falante que não perde a chance de humilhar a negra da história, a empregada, que generosamente é chamada de “tia”. A boneca que ganha vida é o centro das atenções e suas vontades têm que ser respeitada pela negra serviçal.
A implantação do ensino da história da África nas escolas públicas e privadas deste país é uma ação louvável conseguida assim como a libertação dos escravos graças ao povo negro e sua luta. Não foi Isabel quem deu o presente há anos atrás e da mesma forma não foi Lula quem deu hoje. Foi luta. O entendimento de que se deve olhar com especial atenção para a educação infantil é fundamental, pois, nessa fase surgem os apelidos, as brincadeiras preconceituosas e a “síndrome de inferioridade”. Crianças se acham inferior por sua cor, devido a professoras racistas e despreparadas que não dão a mínima para o que as crianças racistas, filhas de racistas fazem na sala de aula com os e as colegas.
Partindo de uma conscientização de igualdade racial na escola, pré-escola, colabora para que no ensino médio e universidade tenhamos pessoas negras conhecedoras de sua história e prontas para enfrentar o racismo que existe e que sofremos todos os dias, de segunda a sexta, incluindo sábados, domingos e feriados. O racismo não tira férias. O natal é racista, o carnaval é racista. Por esses motivos realmente não há educação plena sem educação racial, conscientização e ensino da real história dos negros e das negras. A história de Zumbi, de Martin Luther King, de Rosa Parckson, de Valdina Pinto, Luíza Mahim e tantos outros e outras do passado e contemporâneos.


OS LÍDERES E AS LÍDERES NEGR@S

“Deve ser legal, ser negão em Senegal” Chico César.

Zumbi dos Palmares é o maior referencial na galeria de líderes negros deste país e das Américas. A exemplo dele teve Luíza Mahim, Lélia Gonzáles ambas no Brasil, Rosa Parckson e o reverendo Pastor Martin Luther King Júnior nos Estados Unidos e temos Nelson Mandela na África.
Luíza Mahim - que lutou contra desigualdade racial na Cidade Baixa de Salvador. Rosa Parckson - mulher negra e corajosa que se negou a levantar do banco do ônibus para deixar o homem branco sentar, conforme era a “lei” e todos cumpriam. Rosa disse não. O ônibus então foi levado para a delegacia e Rosa presa. O povo negro foi às ruas e clamou pela libertação de Rosa que saiu e virou exemplo de luta. Dali para frente os negros e as negras passaram a pensaram muito antes de levantar do banco de um ônibus para deixar um homem branco ou uma mulher branca sentar. Era o grito de igualdade saindo das mentes e ecoando nas ruas, praças e avenidas. Igrejas, escolas e restaurantes. Subúrbios, bairros de luxo e nos guetos. Ecoou entre mulheres como Rosa e homens como Luther King. Ecoou entre jovens e idosos e crianças.
Mandela - Nelson Mandela, líder negro, homem preso, Presidente do povo, busto do bairro da Liberdade, bairro de maior população negra dentro de Salvador. Nem é preciso falar muito, a tirania teve que cair diante da humildade e carisma deste líder. Homem que o povo elegeu para mais do que presidir a Nação. Elegeu para pôr no maior posto do País, aquele que melhor poderia exercer tal tarefa.
Martin Luther King Júnior – Reverendo Pastor Evangélico das Igrejas Batistas Americanas, conhecidas por um alto número de fiéis negros e por sua música gospel forte e de melhor qualidade. Luther King ficou conhecido, pois assim como Gandhy, lutou sem armas. Quem não conhece a celebre frase proferida no discurso que fez diante de mais de cinqüenta mil pessoas “Eu tenho um sonho”. Quando depois de inúmeras agressões sofridas, todos esperavam que este homem revidasse. Convocasse as pessoas para a luta armada, “olho por olho dente por dente”. Mas ao invés disso, King disse ter um sonho, um sonho de igualdade. Um sonho de uma sociedade sem separação de cor. Dizia ele querer “que as crianças do Alabama (estado americano mais racista) negras e brancas dessem as mãos e vivessem em paz”. King morreu assassinado e não viu as crianças de cores diferentes crescerem unidas. Veremos nós em Salvador, na Bahia, no Brasil e no Mundo o sonho de Luther King realizado?


EXTERMÍNIO DO POVO E EM ESPECIAL DO JOVEM NEGRO

“... O guri no mato acha que rindo, acho que ta lindo de papo pro ar, desde o começo seu moço, eu não disse que ele chegava lá. Olha ai, olha ai é o meu guri olha ai.” Chico Buarque de Holanda.

Assistimos há anos atrás os grupos de extermínio da Bahia (embora existam os que acham que na Bahia não tem grupo de extermínio e crime organizado) matar o povo negro desta terra. Houve um tempo que parou e voltou agora? Não. Ele sempre esteve ai. Uma vez matando mais e outra vez matando menos. Mas sempre esteve do nosso lado. Bem perto.
Quem não conhece um amigo jovem negro que foi surrado pela polícia que o abordou, pediu documentos e depois só acharam o corpo. Dados estatísticos comprovam que até os 24 anos o jovem negro está em idade de risco e os que chegam e passam dos 25 são considerados sobreviventes. Iraque isso? Afeganistão? Estados Unidos da época de Luther King ou agora do governo Bush? Não! Isso é Brasil, Bahia, Salvador, terra negra, construída por negros. Com o sangue deste povo e agora, estão requerendo o sangue do povo negro de novo.
A juventude negra precisa de uma atenção voltada para si não por dó ou por caridade. A juventude negra precisa viver. Como qualquer ser humano independente de sua cor, raça, sexo, credo religioso, opção sexual ou orientação política. Como enfrentar a luta contra o extermínio do povo negro? Temos hoje no Estado da Bahia, uma nova força política que durante anos e anos esteve na oposição propondo ações e hoje está no governo. Temos uma Secretaria voltada para o povo negro, que é fantasma, pois seu orçamento é irrelevante para o tamanho da causa. Em Salvador, temos uma Secretaria semelhante. Criada na gestão Antônio Imbassahy, no último ano de governo do mesmo, pois soube que um dos planos do então candidato do Partido dos Trabalhadores, Nelson Pelegrino era justamente criar a secretaria de Combate ao Racismo. Imbassahy fez a da Reparação. João Henrique deu continuidade e sem orçamento a oferecer aos dois secretários que ocuparam a pasta nesses quatro anos de gestão JH, ou melhor, repassando a Secretaria a irrelevante quantia de quinze mil/mês.
Em 12 dias quatro jovens negros tiveram suas mortes levadas ao conhecimento de todos e todas pela imprensa baiana. Um em Pirajá, outro no Pela - Porco e agora um mais recente, artista circense e que por ironia do destino prestou serviços para o gabinete do Presidente da Comissão de Direitos Humanos Yulo Oiticica deputado estadual do PT da Bahia. Os crimes aumentaram com Wagner no poder? Não! Estão sendo publicisados com mais freqüência. Mais de fato, nem de longe a política de Segurança Pública do Governo Jacques Wagner corresponde às expectativas de vida dos seres desta terra. Temos uma Secretaria de Promoção da Igualdade, temos uma de Direitos Humanos (ou desumanos) e esta da Segurança que não assegura à população e nem segura seus policiais assassinos. Todos que vestem farda matam? Não! Mas muitos que matam vestem farda.
Com isso, esse Campo tem que fazendo jus ao seu próprio nome, Ousar Ser Diferente dos discursos de Direitos Humanos e Reparação racial existentes e agir. Convocando os manos e as minas das quebradas, guetos e ruelas, avenidas e bairros periféricos e populares, para juntos, mostrarmos a “coisa preta” para esta cidade e Estado. Para o Prefeito, Governador, secretários de Políticas Raciais e a sociedade como um todo. A sociedade que quer ver os negros e as negras em baixa tem que ver os pretos e as pretas no Alto... Alto da pomba, Alto do cruzeiro, Alto do Cabrito junto com os da Baixa... Cidade Baixa, Baixa da Égua, Baixa da Jia, Baixa do Soronha, Baixa de Quintas, Baixa do Sapateiro mostrando seu orgulho, sua raça, sua beleza na Liberdade, Centro, nas Cajazeiras, no sul e sudeste da Bahia, Nordeste e Norte desta terra e mostrando para o Brasil o início da Re-Evolução Racial, consciente de que podemos mais, podemos tudo, podemos sonhar e transforma-lo em realidade.


Law Araújo,
22 anos, Negro, Estudante Universitário, Soteropolitano, Baiano, Nordestino e Brasileiro.

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