A desgraça da Universidade do século XXI é justamente o fato de que os seus estudantes não estão voltados à pesquisa e nem a criação de nada. Temos visto cada vez mais universitários e universitárias que acordam, arrumam-se, entram e saem das suas Universidades, sejam elas públicas ou privadas, e só. Não fazem pesquisas e nem são estimulados a tal, não criam nada, nem mesmos nos cursos tradicionalmente voltados à criação tais quais Letras, Músicas, Artes, Filosofia.
Posso assistir, por exemplo, Universidade Federal da Bahia, a UFBa, que um dia foi a escola de Tom Zé e nada mais depois de Tom Zé foi mostrado a Bahia, ao Brasil e ao mundo. O que a Escola de Música e Artes da Federal da Bahia tem produzido? Onde estão os seus talentos? Onde estão os novos e as novas “Tom Zés”? O curso de Letras tanto da Bahia (UCSal, UFBa, UNEB, UNFACS e outras) como dos demais estados brasileiros, que nada mostram ao país, exceto, uma ou outra que realiza pesquisas cientificas e ainda guardam vivas e bem acessas a chama do porquê existe Universidade, fora essas não temos visto nada. Os estudantes entram nas bibliotecas, pegam livros e vão estudar para o que cairá na prova e simplesmente estudam, decoram, fazem à prova e “tchau e bênção”, “morreu Maria-preá”. Onde está o debate lingüístico? Onde estão os debates sociolingüísticos e literários? Nem na roda dos estudantes de Letras você encontra.
A verdade é que as Universidades de hoje estão apenas fabricando diplomas e a cada dia absorvendo mais e mais pessoas em busca desses diplomas. Não estão em busca do conhecimento, de promover o conhecimento e muito menos de compartilhá-lo. A decadência estudantil é vista a cada dia e cada dia mais ficamos inertes a ela. O movimento estudantil não é igual, não luta da mesma maneira e com a mesma gana. Vemos o individualismo falar alto cada vez mais. Onde ficou perdido o sentimento de justiça, igualdade, fraternidade, solidariedade tão peculiar aos jovens e aos universitários? Dias desses, há algum tempo já, meses ou anos... Não sei. Vi uma matéria na TV onde Tom Zé, cantor, compositor e que para mim está mil anos luz a nossa frente sempre e por isso, é tão incompreendido e pouco divulgado entre a minha e as novas gerações mesmo aqui na Bahia, sua terra natal. Ele fala dessa inquietude que o incomodava. Por que nós jovens de hoje, somos tão egos centristas e não damos a mínima para o negro que é discriminado, mesmo sendo também negro? Por que não damos valor algum à causa da mulher? Dos evangélicos e religiosos em geral? Pouco importa o número de jovens negros que são exterminados e pouco importa o número de gays, lésbicas que morrem só porque querem ser gays e lésbicas. Assim tem se portado a nossa geração, que diz ter esperança no amanhã e quer trazer outra geração a este mundo, que não estamos construindo, estamos sim deformando cada vez mais.
A sala de aula deixou de ser o local para este e outros debates. A pedagogia de hoje em escolas e Universidades tem sido cada vez mais louca, eu ensino (finjo pelo menos), vocês aprendem (fingem também) e vamos fazer tudo isso rápido porque temos hora a cumprir. O saber com hora marcada para começar e terminar. Onde já se viu? O saber não tem tempo determinado. Não existe demarcação de tempo no mar do saber e do conhecimento. No mar das descobertas. Da troca, professor X estudante. No mar da busca pelo conhecimento, das pesquisas, -que é para isso que se propõe a existência das Universidades- o tempo não é senhor. Não pára mais também não passa com a obrigatoriedade do façamos rápido, façamos por fazer. Eis ai, a verdadeira desgraça da Universidade brasileira. Perdeu-se o seu real sentido. Virou fábrica de diplomas e seus estudantes, cientistas, pesquisadores, passaram a ser meros clientes e nada mais.
Law Araújo, Estudante de Letras Vernáculas da Universidade Católica do Salvador, UCSal, filiado do PT de Salvador, membro da Corrente Interna EDP- Esquerda Democrática e Popular.
terça-feira, 4 de março de 2008
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