terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Obama Presidente: Dia Histórico

Tomou posse hoje nos Estados Unidos o primeiro Presidente negro Barack Obama. O dia 20 de Janeiro de 2009 entra para a história como um dos mais importantes.

Obama, 1º presidente negro dos EUA, propõe nova era


Por Steve Holland e Caren Bohan

WASHINGTON (Reuters) - Barack Obama tornou-se na terça-feira o primeiro presidente negro dos Estados Unidos e propôs à população que participe de uma nova era de responsabilidade para restaurar o país, sua economia e sua imagem externa.

"A partir de hoje, precisamos nos levantar, sacudir poeira e começar de novo o trabalho de refazer a América", disse Obama, logo após prestar juramento, em um dos discurso de posse mais aguardados da história.

Centenas de milhares de pessoas explodiram em gritos de alegria no amplo National Mall ao verem Obama no palanque, com a mão direita erguida e a mão esquerda sobre a mesma Bíblia usada na posse de Abrahm Lincoln em 1861. Diante do presidente da Suprema Corte, e com alguns tropeços, ele prestou o curto juramento que o tornou o 44o presidente dos Estados Unidos, como sucessor de George W. Bush.

Com um largo sorriso, o novo presidente beijou sua mulher, Michelle, e suas duas filhas estudantes, Malia e Sasha. Depois voltou-se à multidão que enfrentou um rigoroso dia de inverno para vê-lo e gritar seu nome.

Obama, um democrata, substitui o republicano George W. Bush, que após dois mandatos volta ao Texas com a popularidade em níveis historicamente baixos e um legado que inclui duas guerras e a pior crise econômica em sete décadas.

O clima de festa em torno de Obama sofreu um golpe com o desmaio do senador Edward Kennedy, em no almoço da posse, no Capitólio. Kennedy, 76 anos, que passou por uma cirurgia em junho para retirar um tumor do cérebro, teria sofrido convulsões, segundo um assessor do Congresso. Ele foi retirado do local em uma maca.

"Eu estaria mentindo para vocês se eu não dissesse que agora uma parte de mim está com ele. E eu acho que isso vale para todos nós", disse Obama no almoço.

Kennedy, um veterano senador por Massachusetts, é irmão do falecido presidente dos EUA John F. Kennedy e uma das figuras mais respeitadas do Congresso.

A posse desse ex-senador de 47 anos, filho de um negro do Quênia com uma branca do Kansas, foi cheia de simbolismos para os afro- americanos, que durante gerações sofreram a escravidão e depois a segregação racial que fazia deles cidadãos de segunda classe.

Em uma alusão a essa história, Obama saudou as pessoas que construíram o país desde a sua fundação, inclusive aqueles "que sofreram o açoite da chibata e araram a terra dura".

AÇÃO INCISIVA

Falando para a multidão a perder de vista, Obama citou a crise econômica, a pior em 70 anos, e as guerras do Iraque e Afeganistão como fatores que colocaram o país "no meio de uma crise".

Obama prometeu ações incisivas e rápidas para a "duramente enfraquecida" economia dos EUA, uma prioridade para o seu governo, que desde antes da posse negocia com o Congresso um pacote estimado em 850 milhões de dólares para estimular a economia.

As Bolsas dos EUA, que passaram a manhã em baixa, caíram ainda mais depois do discurso, que continha poucos detalhes sobre como enfrentar a crise.

Começando um mandato sob enormes expectativas, Obama prometeu que os EUA deixarão o Iraque "responsavelmente", e ajudará o Afeganistão a conquistar a paz.

Ele não apresentou prazos específicos para a desocupação do Iraque, mas um tratado bilateral firmado no governo Bush estabelece que isso deve ocorrer até o final de 2011. Obama prometeu reforçar a presença militar dos EUA no Afeganistão para enfrentar a milícia islâmica Taliban.

Numa clara referência às práticas de interrogatórios usadas pelo governo Bush contra suspeitos de terrorismo -- comparadas a tortura por alguns --, Obama rejeitou a idéia de que é preciso fazer "uma escolha entre a nossa segurança e os nossos ideais".

O novo governo não emitiu uma ordem imediata para a desativação da prisão militar de Guantánamo, mas assessores disseram que isso pode acontecer até o final da semana.

Para milhões de pessoas assistindo-o no exterior, Obama disse: "Saibam que a América é uma amiga de cada nação e de cada homem, mulher e criança que busque um futuro de paz e dignidade, e que estamos prontos para liderar mais uma vez".

Após anos de relações tensas com os muçulmanos depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 e da "guerra ao terrorismo" do governo Bush, Obama ofereceu palavras conciliadoras ao mundo islâmico, com o qual disse buscar "um novo caminho adiante", baseado no respeito e nos interesses mútuos.

Mas, a respeito do terrorismo, ele declarou: "Não vamos nos desculpar por nosso estilo de vida, nem ceder na sua defesa, e para os que buscam promover seus objetivos induzindo o terror e abatendo inocentes, dizemos a vocês agora que nosso espírito está mais forte e não pode ser quebrado; vocês não podem sobreviver a nós, e nós iremos derrotá-los".

"PEQUENAS OFENSAS"

As pesquisas mostram enorme apoio popular a Obama e otimismo sobre os próximos quatro anos de seu mandato. Mas o novo presidente terá de moderar as expectativas.

Ele disse que "o mundo mudou, e precisamos mudar com ele", e que chegou o momento de "proclamar um fim às pequenas ofensas" que durante tanto tempo dividiram os norte-americanos.

"O que se exige de nós agora é uma nova era de responsabilidade -- um reconhecimento, por parte de todo norte-americano, de que temos deveres para conosco, com a nossa nação e o mundo, deveres que não aceitamos relutantemente, e sim que agarramos com alegria", disse.

Obama atribuiu a crise econômica em parte "à cobiça e à irresponsabilidade" de alguns, mas também à relutância do país em fazer escolhas difíceis. Afirmou que o colapso econômico mostra como os mercados podem escapar ao controle quando não há "um olhar atento", e que a prosperidade precisa ser mais bem dividida.

A recessão deixou o país com um déficit público de 1 trilhão de dólares e 11 milhões de desempregados. A economia, maior preocupação da opinião pública, ajudou Obama a vencer o republicano John McCain na eleição de novembro.

"Não me importa de que cor ele é", disse o investidor imobiliário Garrell Winstead, 67 anos, que viajou de Cincinnati (Ohio) para ver a posse. "Se a economia não melhorar e ele não criar empregos suficientes, a paciência vai evaporar."

(Reportagem adicional de Jeff Mason, Jim Wolf e Randall Mikkelsen)

Nenhum comentário: