sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A ALMA DRUMMONDIANA

A ALMA DRUMMONDIANA


É impossível ler Drummond e não assumir um pouco de sua alma. Drummond injeta em cada um de nós um pouco de Itabira. Um pouco da alma itabirana. Alma forte. De ferro, diria ele.
A alma Drummondiana é pacata, reservada. Simples. É tudo isso sim, mas em tudo isso se traz paixão. N' alma Drummondiana não há a busca pelos holofotes. Não a corre- ria de outras almas. Afinal, você corre... Para onde José? A inquietação de outras almas, n' alma Drummondiana é mais serena. Não existe o louco desejo de morrer no mar, uma vez que o mar já secou, existe sim a sabedoria de que não podemos fazer tudo, pois te- mos somente duas mãos e o sentimento do mundo.
Um mundo cada vez mais louco e pervesso. Um mundo diferente da Itabira que pariu e viu parir Carlos Drummond de Andrade. O maior ícone da poesia brasileira antes e de- pois dele mesmo. Mais nesta vida que é corrida. A certeza da morte se mantém presen- te em todos os momentos, por isso mesmo é que temos a convicção de que nosso no- me um dia estará cravado na pedra, pois nosso nome é tumulto ( nossa alma não é tum- ultuada ), escreve-se na pedra, num jazigo onde logo depois nascerão flores amarelas de medo, de um medo que não cantaremos, pois não nos convém cantá-lo.
Na verdade nossa alma Drummondiana não pode fazer inúmeras coisas. É limitada além das limitações impostas a outras almas e mesmo assim, essa alma brilha mais que as demais. Tentam calar a alma Drummondiana, mas o mesmo não é possível. Mesmo sem poder dizer o que queremos em alta voz, mesmo com as ameaças de labaredas de fogo que possam queimar a nossa língua, nossa alma diz, grita: " Eu quero a puta, eu quero voltar a minha infância itabirana, mas Minas não há mais". Infelizmente, muito infe- lizmente nem Drummond há mais. Drummond é só um livro na estante, mas como dói.
Law Araújo, autor,
escrito em 08/06/2006.

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